quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Uma prioridade equivocada

*Cristina Baddini
Diretora Instituto Ruaviva

Na Grande São Paulo, o total de carros cresce oito vezes mais rápido que a população. Em fevereiro, a frota paulistana ultrapassou os 6 milhões de veículos, um para cada dois moradores. Os congestionamentos chegam a mais de 200 km no horário do pico.

Por conta disto, o governo do estado decidiu investir R$ 1,3 bilhão para construir 23 km de pista de cada lado do rio Tietê, com três novas faixas em cada uma, além de um conjunto de obras acessórias, como pontes, viadutos e alças de acesso. As marginais que correm paralelas ao rio e ligam as zonas Norte, Sul e Oeste da cidade e também servem de acesso ao aeroporto de Cumbica e às rodovias Anhangüera, Bandeirantes, Castelo Branco, Dutra, Fernão Dias e Ayrton Senna foram construídas há 52 anos e entraram em colapso faz tempo.

Mas, a questão é: vai resolver o problema do trânsito? Acredito que sequer amenize o tráfego. O problema vai muito mais além da construção de mais pistas na marginal: - para onde irão os carros que ocuparão as novas pistas? Sim porque os carros não aparecem do nada nem desaparecem após trafegarem na marginal. Eles vêm e vão de estradas, ruas e avenidas que já estão superlotadas e completamente paradas. É o mesmo que aumentar o diâmetro de um cano d’água de sua casa, sem aumentar a entrada de água nem a torneira.

Portanto, São Paulo gastará R$ 1,3 Bilhão para ter mais carros presos nas marginais. Me parece um estacionamento caro demais.
Para aqueles que dirigem seus automóveis para São Paulo vindos de outras cidades, a solução é criar transportes coletivos para os que moram em outras cidades e trabalham em São Paulo. O investimento em transporte coletivo para retirar aqueles que ocupam as marginais para ir e voltar do trabalho dentro de São Paulo produziria uma redução nos congestionamentos muito maior na marginal, do que fazer novas pistas.
Outra alternativa seria a construção de uma linha de metrô acompanhando a marginal pois mais pessoas seriam atendidas, mais carros sairiam das ruas e o trânsito melhoraria mais. Isto sem falar na redução da poluição.

A construção de novas pistas na marginal do Tietê terá também como consequência a redução da área permeável da cidade. Sabe-se que haverá uma compensação ambiental, mas nem todas as árvores serão plantadas exatamente na marginal. A cidade vai sim perder permeabilidade. Com essa obra serão perdidos 19 hectares – como se fossem 19 quadras da cidade de área permeável a transformada asfalto. A compensação ambiental, por meio do plantio de árvores não ser irá compensar adequadamente uma vez que as árvores serão plantadas em áreas verdes, que já são permeáveis hoje.

Se a rede viária da cidade for ampliada indiscriminadamente, aumentando cada vez mais a impermeabilização do solo, teremos cada vez mais problemas de drenagem. Portanto, é preciso planejar a expansão urbana, e isso é uma coisa que até hoje não ocorre na metrópole de São Paulo. Não há planejamento metropolitano. Cada município faz aquilo que bem entende, não há dialogo entre eles. E os rios, infelizmente, não obedecem a limites municipais.

A população da Grande São Paulo clama por uma alternativa consistente, pois essa a gente já viu que não vai dar certo.

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