por Guilherme Tampieri
08/09/2014 11h28
Ao longo das últimas décadas, Belo Horizonte, assim como outras cidades do mundo todo, foi moldada para (tentar) comportar as centenas de milhares de automóveis que ocupam suas ruas. O espaço urbano em toda a cidade foi e continua sendo construído e descontruído na ilusão da melhoria da fluidez do trânsito dos 1.100.000 automóveis que a cidade já possui e aos 250 carros que entram em nossas ruas todos os dias.
O resultado da equação: governos investindo e subsidiando o uso dos automóveis particulares mais sociedade comprando esta ideia mais novos carros na rua é igual a uma cidade cada vez mais congestionada, poluída, barulhenta, tediosa e com qualidade de vida baixa para os cidadãos.
Arte de Reynaldo Berto
Desde 1997, na busca por romper com esse ciclo permissivo e levar a uma reflexão sobre a dependência que foi criada em relação ao uso do carro, os franceses convencionaram que o dia 22 de setembro seria o Dia Mundial Sem Carro (ou Car Free Day). De lá para cá, cidades do mundo inteiro aderiram à iniciativa e fizeram com que pessoas experimentassem, pelo menos por um dia do ano, outras formas de se locomover pelas cidades.
Com o passar do tempo, a ideia evoluiu e hoje não se trata apenas de promover um dia sem carro, mas uma semana (ou até um mês) da mobilidade. A Semana da Mobilidade tem se configurado como um bom momento para mostrar os desafios que as cidades têm pela frente e, assim, induzir mudanças de comportamento no que tange ao uso e ocupação do seu território.
Desde agosto deste ano, dezenas de cidadãos e coletivos de Belo Horizonte se juntaram para promover a Semana da Mobilidade em BH com o objetivo de fomentar o uso do espaço urbano de maneira criativa. Serão promovidas ações de recuperação das áreas urbanas através de iniciativas pontuais, como por exemplo, a Vaga Viva - uso do espaço de vagas de estacionamento para carros para promoção de aulas públicas, cafés da manhã comunitários e outras tantas possibilidades de redesenhar esses espaços. É o momento de festejar a cidade para as pessoas.
As políticas públicas são determinadas não apenas por decisões finais como decretos de prefeitos e possíveis vetos a bons projetos, mas, também, pelo empoderamento dos cidadãos sobre as arenas institucionais de se fazer política e pela criação de novos espaços, como a Semana da Mobilidade, que são capazes de gerar bons resultados no que tange à discussão sobre interesses comuns, à res publica.
Seja em qual cidade for, cada um de nós é responsável e afetado pela forma como todos nós usamos o espaço urbano e os tipos de transporte que escolhemos para tal. Dessa forma, a articulação entre os diversos setores sociais (gestores públicos, coletivos sociais, empresas, universidade, escolas, dentre outras formas de organização social e o cidadão) é o primeiro passo para construir um modelo de cidade que, de fato, coloque a mobilidade das pessoas em primeiro lugar.
Saiba mais sobre a agenda da Semana da Mobilidade enviando um e-mail para bhemciclo@gmail.com. Participe!
* Artigo originalmente publicado no Jornal Hoje em Dia 7/9/2014
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